quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Partida

Perco a calma
Nesse momento
E a minh’alma
Um monumento.

Sou alabastro
Em comoção.
Sem um astro
Que dê emoção.

Sou impaciente
E um invisível,
Muito descontente...
Incompreensível!

Vivo à margem
Da loucura,
Cuja imagem
É sem ternura

Na brevidade
Da vida,
Uma saudade
Aqui mantida.

Da aurora
Que partiu,
Cuja demora
Só me consumiu.

Fico aquém
Dos beijos seus,
Assim como quem
Já disse adeus.


Cristóvany Fróes

Tardes

Tardes da minha terra, doce encanto.
Tardes de sol, de brilho intenso.
Tardes de Ilhéus, as tardes de domingo...

As pessoas sentadas nas calçadas contavam estórias
[daquelas que Rosa contava quando eu menino.
As mulheres surgiam como transeuntes,
[A deixarem no ar, o olor de jasmim.
Aquele perfume era eternizado em nossos olfatos,
[Como se neles já estivasse nascido.

Vinham os pregões e musicavam as ruas:
Olha a cocada!
Olha a rapadura!
Olha o pé de moleque!
-Quanto é?
-Pro senhor... Dez.
-Dê cá um!
E todos comiam num prazer absoluto.
As horas iam se esvaindo até que o sol
[Iniciasse sua partida.

Via-se, então, o crepúsculo se fazer e se desfazer.
As crianças corriam para abraçar seus pais...
E as esposas colhiam olhares doces dos maridos.
As moças ficavam nas janelas de olhares perdidos.
Os rapazes as cortejavam de chapéu na mão.
A noite caía e ficava a certeza de que no dia
[seguinte ainda se teria outras tardes assim...

(Cristóvany Fróes)

domingo, 18 de julho de 2010

Eternidade

Para inércia, fato.

Para águia, voo.
Para acontecer, ato.
Para repetição, enjoo.

                                Para compor, dom.
                                Para passado, saudade.
                                Para descontrair, som.
                                Para Marisa, eternidade.

Para ambição, teto.
Para raça, cor.
Para existir, feto.
Para ilusão, dor.

                                Para oposição, protesto.
                                Para prolongar, marte.
                                Para viver, pretexto.
                                Para profissão, arte.

Para palavra, dicionário.
Para ídolo, adoração.
Para padre, seminário.
Para povo. Nação.

                                Para vencer, sacrifício.
                                Para comunidade, clã.
                                Para desocupado, oficio.
                                Para mudo, palavrasã.


                Cristóvany Fróes

sábado, 17 de julho de 2010

Não fui, nem sou.

Como posso ser se não sei se fui;
Ou se o tempo é que foi por mim?
Eu não sou eu.
Eu sou uma incógnita.
Eu sou apenas o muro
[Que divide o ser do não ser.
E se existe um eu...
Eu sou o que o tempo quer que eu seja.
Estática! Talvez, seja a palavra certa
[Para nomear minha existência
E eu apenas estou em mim.
O eu de ontem não é o de hoje,
Nem será o mesmo de amanhã.
O "me" só existe nesta lucidez do momento,
No instante em que me acho
[Existente e válido.
E neste estado de transe
[Que me vejo diante do espelho,
Não sei o que me afeta
Ou se sou o próprio afetar;
Um afetar de um ser imaginário,
Que o tempo insiste em recriar.
Não!
Não sei o que me vale
[Se não valho sequer o tempo de um verso.
Um verso pode durar um minuto
Ou uma eternidade.
E um eu, dura o tempo que ceifa
Ou a percepção de um simples engano.

Cristóvany Fróes

Alegretriste

Um sonho aqui eu vivi.
Vi meus castelos derrubados,
Alados amores inalcançáveis
Amáveis, nunca para mim.
Sim, se foram as esperanças,
Confianças de que conseguiria.
Lutaria por um lugar ao sol,
Atol, lugar onde um dia saí,
Daí, eu não queria voltar.
Atar meus laços eu pensava,
Andava num mundo de ilusões,
Emoções sentidas em vão.
São rudes minhas fantasias,
Azias provocadas pela derrota.
Rota do sudeste para nordeste,
Leste, eu não iria de passagem,
Coragem ficou aí pelo caminho.
Mansinho e adestrado eu volto,
Solto, numa liberdade estranha,
Arranha ferindo o meu ego,
Nego o verdadeiro fracasso.
Escasso, eu fiquei de perseverança,
Avança agora a vontade de parar.
Varar o peito com o vil retorno,
Torno ao início do caminho.
Sozinho em busca do que não sei,
Cansei, vou descobri, eu juro.
O Juro será cobrado na vitória,
Glória é esperada em ilhéus.
Céus gris troco pelos azulados,
Gelados ficam os meus eus,
Ateus das coisas materiais,
Cordiais a amigos conquistados;
Animados, me fazem sorrir,
Carpir em serem verdadeiros,
Maneiros, totalmente de graça.
Desfaça meu peito da verdade,
Saudade vai levar de pessoas
Boas que me querem bem,
Também entendem a decisão.
São compreensivos nessa vida,
Tida como amada e desconecta.
Conecta agora a saudade que sinto.
Instinto, diz que os verei novamente,
Contente parto para o berço,
Exerço o mais triste papel
Fel é o gosto de amigos deixar.
Inchar os olhos de tanto pranto.
Portanto, deles hei de sempre lembrar.


Cristóvany Fróes

quinta-feira, 15 de julho de 2010

A verdade

E o que é a verdade?
O que se pensa agora, pode ser ultrapassado
Pelo pensamento de ontem ou de amanhã.
Como pensaria um ator?
A vida é um teatro de palcos múltiplos
Diante das encenações geradas pelo homem.
Em todas as circunstancias da vida real
A arte está em tudo que o homem produz.

Mas o que é a verdade?
A concretização das coisas já estabelecidas,
Ditas ou não, como a realidade nua e crua.
E como um cético poderia saber?
As coisas que estão diante de nossos olhos
Que por vezes se cansam e nos fazem mudar tudo.
O que acreditamos e queremos acreditar
São as faces de uma realidade física.

E a verdade onde fica?
A verdade é o que se pode provar com fatos...
Como pensaria o materialista?
É o próprio ato de algo existir como matéria.
A realidade vai e vem como as ondas
E se pode falar agora o oposto do que já foi dito.
Talvez um conceito de moral absorvida desde criança
Até que se quebre e crie um novo conceito de verdade.

O que pode ser a verdade?
A verdade não está na dor, nas lágrimas,
Nem em um sorriso por mais verdadeiro que pareça.
Como um alienado poderia responder?
A realidade é o que está fácil de aceitar e compreender
Por ser vista, bebida, comida e digerida como o alimento?
A esperança, os desejos, os sonhos e os pensamentos
Ficam sempre aquém do conceito de realidade,
É o que esconde a verdadeira face de verdade.

E o que é a verdade?
A verdade, talvez seja a criação da existência
O próprio estudo filosófico para tentar entende-la.
E o pensador como responderia?
A verdade está muito além da realidade
Ela vai até onde o nosso pensamento alcança.
A verdade pode está além do que se acredita ser real,
Ultrapassa os limites da fé e vai ao encontro de deus.
Ela é o que se pode sentir com o coração puro.

Cristóvany Fróes

terça-feira, 13 de julho de 2010

Morte da morte

Num dia triste e sofrido...
Um homem quis suicidar-se
E ao olhar para as alturas,
Que a selva de concreto produz,
Imaginou a possibilidade da morte.

E de repente no mais alto edifício,
Por lhe restar apenas o último olhar,
Vislumbra a animação dos átomos
Que lá embaixo são homens e mulheres.

Assaltado pela vertigem, vê-se, então
Obrigado a olhar para o horizonte,
Que se encerra nos limites da visão.
Percebe a infinidade da existência
E a beleza das flores em pólen e mel.

Surge um sorriso e a imagem do cosmo,
Que com seus astros torna mais forte
A vontade de provar do doce viver.

Cristóvany Fróes

O silêncio

Há um silêncio incômodo...
Um silêncio de passos trôpegos,
Um calar dos sentidos,
Um forçar da inércia.
Não me rendo a esse silêncio,
Não ao silêncio da escrita,
Mas da palavra propriamente dita.
O matar da voz,
Do grito,
Da toada lúcida.
Há uma vontade voraz
Que me induz a um querer,
Um dizer,
Um contestar,
Um expressar tudo,
Sem a necessidade lógica da linguagem,
Como se o silêncio chegasse à mão
E libertasse o gesto absoluto.
E essa mão fazer nascer novos signos,
Que entrelaçados formam léxicos
Na conformidade de um espaço uno.
Para que se revele tudo o que sinto.

Cristóvany Fróes

terça-feira, 6 de julho de 2010

Reciclagem

É dia de parar e pensar...
Pensar no que fizemos
E deixamos de fazer.
Em tudo que amávamos
E deixamos de amar.
Em tudo que vivemos
E deixamos de viver.

Nas coisas que sonhamos
E deixamos de sonhar.
Em tudo que seguimos
E deixamos de seguir.
Em tudo que perdoamos
E deixamos de perdoar.

Parar e pensar...
Pensar no que ganhamos
E deixamos de ganhar.
Em tudo que perdemos
E deixamos de perder.
No que acreditávamos
E deixamos de acreditar.

É um tempo de reciclagem
Boas lembranças virão,
Todas as ruins também.
Agora, talvez, ao pensar,
Nós podemos, então, perceber
O quanto nós somos importantes...
Importantes um para o outro.

Cristóvany Fróes

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Anfíbio

De manhã tenso
Meio dia regime
A tarde penso
Na noite sublime

A lua clareia
Uma estrela pisca
No mar a sereia
E eu a isca

Da hipnose o canto
A toada prossegue
Quando me espanto
A sedução persegue

Um ser envolvente
Levou-me ao oceano
Para vida contente
Durante um ano

Amores perdidos
Vendavais dispersos
Desejos proibidos
E outros universos

Verdades ilusórias
Emoções cantadas
Retorno de memórias
Em vidas passadas

Um sonho emerso
Com a deusa vivi
Depois de emerso
Deus netuno eu vi

E cedeu-me a mão
Da deusa do mar
E no firme chão
Veio a me amar

Vida sem mágoa
Por sobre a terra
E que sob água
A tristeza encerra

Cristóvany Fróes

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Redundanciando

Agora vamos começar
Exatamente do começo...
Quando um rapaz caiu uma queda
Logo depois de subir
Para cima de uma árvore
E tão rápido descer para
Baixo de uma só vez.
Machucado, entrou para dentro
De sua casa a gritar alto de muita dor,
Depois em seguida,
Saiu para fora e disse a seus amigos
Que não doeu nada.
Quando ia indo para a rua
Do pleonasmo brincar
De repetir palavras e sentidos,
De novo novamente ele se
machucou muito...
Ao escorregar na redundância
Pisou em cima de um prego,
O qual furou um enorme
Buraco no pé.
Saiu mancando do pé machucado.
Quando vinha vindo
De volta para casa com o pé
Sangrando sangue,
Encontrou sua mãe...
Ela logo quis ver com os próprios olhos
A ferida do seu filho.
Ela o levou para fazer curativo
No lugar do ferimento.
O curativo feito para curar, resolveu
O problema em poucos dias.
Mas tudo passa, tudo é passageiro,
Fugaz simplesmente.
Foi apenas um dia de azar,
Má sorte na verdade.
Outro dia, quando desocupado
E sem fazer nada,
locou um filme na locadora para se distrair,
O problema é que o filme
Era legendado para ler,
Ele odiou com muita raiva aquelas
Letras que passavam depressa,
Mas assistiu ao filme todo na sua televisão.
No filme, tinha um herói
Que era o artista principal
E o protagonista num bangue-bangue
violento de muito tiroteio.
Realmente tinha muito tiro de arma de fogo.
Contudo, é feliz, tem uma namorada
A qual ele namora.
Sua namorada é uma bela
Morena muito linda.
Eles se amam, ela o ama
E ele a ama também,
Já que ambos os dois
Têm muito em comum.
Gostam das mesmas coisas
Os dois, o casal.
É uma espécie de elo
De ligação que os une.
Quando saem para passear
E dobram a esquina, é unanimidade geral
Outros comentarem sobre a vida deles,
Mas eles não ligam e gritam bem alto,
Para jurarem amor eterno
E para sempre , sem se preocuparem
Com o excesso de fala oral.
Eles sabem que vicio de linguagem é fato real.
Infelizmente agora não há
Mais tempo para voltar atrás,
Nem tentar erradicar
Pela raiz esse costume.
Um plano é a idéia que tiveram...
Continuar a falar assim mesmo;
Provando como é mais melhor
Namorar aquem se ama,
Julgando ser mais maior
O amor que eles sentem,
Tornando mais menor a distancia.
E vão se amando um ao outro
Todos os dias diariamente
Sem a preocupação com a linguagem,
Assim sem rumo, à deriva,
Sem as regras que regem todo o sistema.

Cristóvany Fróes

Transeunte

Você chegou trazendo alegrias.
O seu sorriso era como o sol,
Iluminando e alegrando a imensidão.

Você chegou como uma passageira
De uma doce e infinita paz;
Trazendo-me muitas incertezas.

E sem demora você se foi...
Deixando um inferno em meu peito,
Causando-me dores intermináveis.
Você se foi e logo tudo acabou.


Cristóvany Fróes

Por ti

Eu caminhei,
Quando quis parar.
Eu concordei,
Quando quis contestar.
Eu sorri,
Quando quis chorar.
Eu me ceguei,
Quando quis enxergar.
Eu me calei,
Quando quis falar.
Eu me aproximei,
Quando quis me afastar.
Eu mudei,
Quando quis te ver mudar.
Eu fiquei,
Quando quis ir embora.
Eu esperei,
Sem pensar na hora.
Eu me dediquei
E a desilusão doeu.
Nunca foste tu
E até deixei de ser eu.

Cristóvany Fróes

Admirável

Em beleza é digna de veneração,
Lapidada por deus a cada instante.
Tem o senso maior de elevação,
Inteligência altiva sempre constante.

Belos cabelos jamais serão cãs,
Sorriso intenso nunca partir.
Exala o perfume suave das maçãs
Linda guerreia, nunca a vi carpir.

Ela lança na vida, gestos tão singelos,
Que um dia netuno ofertou-lhe o mar.
Andréa e divindade formam elos,
Ao ávido e carente sempre a amparar.

Um semblante que lembra néon.
Dos problemas, oásis é Andréa,
Que vê em tudo um lado bom.
De amigos, um dia, terá platéia.

[Cristóvany Fróes]

Frutas do tio

Que pirralho!
Olha lá,
De galho em galho,
Pulando acolá.

É de se admirar,
Na árvore alta;
Querendo brincar,
Que menino peralta!

No alto do pé de jambo,
Busca fruta madura.
Vai levar um tombo,
No pé de jaca dura.

O jenipapo está aquém,
Da doce carambola.
Seu quintal não tem,
E o dono ele enrola.

Inventa uma brincadeira,
Quando sobe nela,
Na arvore bananeira
Ou pé de ciriguelas.

Escorrega e não se zanga,
Mas sobe no pé de pinha.
Já desceu do pé de manga
E da goiaba amarelinha.

Gostoso é o sapoti;
Comer de outra maneira
O fruto verde do oiti
No quintal de tio carreira.

Uma carreira ele leva,
No colher do cacau.
Nada tem com a Eva,
Enganada pelo mau.

A agradar uma menina,
Vai que vai sorrindo,
Oferecê-la a tangerina
Ou azedo tamarindo.

E a garota não dá bola,
Ao cajá de temporão,
Mas ele leva a graviola
Ou o negro jamelão.

O maracujá deu sono,
E o fez dormir no ingá,
Com a chegada do dono,
Ele teve que gingar...

Corre pirralho!
Pula para cá,
De galho em galho,
Que o dono vem lá.


Cristóvany Fróes

Noite única (Sarau na rua)

Hoje logo tudo se encaixa,
Entre o verso e o encontro,
Surge o sorriso de Natacha,
Para deixar o cantor pronto.

Errando as letras devagar,
A disfarçar sem vaidade,
Os momentos de sonhar;
Na voz de Robson Andrade.

Essa gente está maluca,
Em cantar dessa maneira.
A curtir textos da Tuca
E gritos de Paulo Teixeira.

A amizade vem neste pique,
Com a força dessa folia.
No embalo Seixas do Rick,
A marcar presença da Júlia.

Emocionado, eu nada aqui direi,
Apenas vivo a expressão do som,
Que reproduz o brilho da shirley,
E a sutil leveza do Anderson.

A produzir o verso mais singelo
Que conquista a todos por perto,
A poesia técnica do Marcelo,
A irradiar esse espaço aberto.

Em meio à rua, nossas esperanças;
Mais felizes, ficamos todos nós,
Nos momento de muitas lembranças.
Inspirado, revela-se Cristóvany Fróes.


[Cristóvany Fróes]

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Esperado Sim

Agora, de repente quero perder,
Esse orgulho que me cega.
A realçar a força que me rega
E minhas intenções não esconder.

Desfrutar, um dia, seu doce beijo.
E com ardor, cindir meu momento,
Com o mais profundo sentimento,
E revelar as faces de um desejo.

Perder aquela terrível amargura,
Para aliviar o nó da garganta,
Pois muitas vezes me espanta,
Ver sua incrível face de candura.

Receber, talvez, o fascinante olhar,
Que só me faz perder a linha,
A alegrar a triste vida minha,
Para um novo caminho trilhar.

Desvendar as causas dessa dor,
A libertar o meu frágil peito,
A pedir o amparo no seu leito,
E revelar o que sinto com ardor.

Afugentar as possíveis malícias.
Dentre o calor de seus abraços,
Construir, então, grandes laços.
E me fortalecer nas suas caricias.

Ouvir, um dia, o esperado sim.
Palavra que essa mulher redime
Retirada do verso mais sublime
Que eu quero agora para mim.



Cristóvany Fróes

Dulceverso

Minha mãe me deu um verso,
Que concebeu bem materno,
No ventre eu transverso,
Provocar nascer eterno.

Minha mãe me deu um verso,
Feito com muita labuta,
A abrir outro universo,
Por mulher de boa conduta.

Minha mãe me deu um verso,
Em me dar honestidade;
Jamais caminho inverso,
Nem orgulho ou vaidade.

Minha mãe me deu um verso,
Com suor me deu comida;
Eu vendo mundo diverso,
Apressei minha partida.

Minha mãe me deu um verso,
Longe bem querer aumenta,
Dele nunca desconverso,
Se este peito agüenta.

Minha mãe me deu um verso,
Nada, porém, nos separa;
Mesmo estando adverso,
Seu carinho me ampara.

Minha mãe me deu um verso,
Para minha vida pegue;
Este amor que converso,
Com Dulce feliz prossegue.

[Cristóvany Fróes]

R A

Um pouco de conforto,
Um pouco de coerência,
Um pouco de consciência.
Quando não pago, me descabelo.
E aonde está o conforto ?
- Está na cadeira de pós-graduação.
Aqui nesta dura cadeira,
Nem nome eu tenho.
Sou apenas número...
Um número de passaporte escolar.
Entre códigos e tarifas.
Que rumo me dão?
- Não sei, de fato não sei.
O Meu tempo de vida
É de apenas vinte minutos.
Meus versos compõem dez centímetros.
Vinte minutos tudo que sei?
Talvez o silêncio diga mais.
E o que tenho meu deus?
Meu versículo custa $ 289,00
Ou quem sabe $ 316,00.
Pago os olhos da cara...
Pago a educação ou finjo a cegueira?

[ Natacha Orestes/ Paulo Teixeira/ Cristóvany Fróes]

Fatal

( À bela Lindovânia )



A serenidade da suave pétala me seduz,
Com o desabrochar do sorriso de Linda.
O brilho dos teus olhos minha vida conduz,
Na presença da bela, minha tristeza finda.

Ó minha Deusa de cabelos dourados,
De olhos e doces lábios tão perfeitos,
Que me deixam com os braços atados.
Ver voluptuoso corpo sem defeitos.

Tem um caminhar de elegantes passos.
A revelar todas as formas do desejo.
Um dia hei de desfrutar doces abraços,
Ou me render na delicia do teu beijo.

A tua presença marcante só faz bem,
Uma voz que ao redor transmite calma,
A certeza que no âmago amor contém.
E só teu eu revela a beleza da alma.

[Cristóvany Fróes]

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Ao despertar

Ah, que devaneio...
Que estado de espírito!
Será que sonhei realmente?
Não, é a mais doce realidade.
Acorda amor!
Acorda!
Olhando-te aí deitada,
Recordo-me da noite passada;
Tantas palavras doces,
Tantos beijos molhados,
Tantos abraços apertados.
Acorda!
Acorda!
Acorda!
Já iluminaste minha vida,
Os meus sonhos,
Os meus anseios,
Os meus caminhos.
Agora estais aí a dormir.
Vamos, levante!
Veja que lindo dia!
O sol está a sorrir para ti,
O venta a espalhar o teu olor,
E o tempo, este quer te prolongar.
Avante, fique de pé!
Eu já me sinto o próprio Crusue
Sem a companhia de Sexta-feira.
Oh, tu me acostumaste mal.
A tua presença é como a do Manolim
Na vida de um velho pescador.
O teu sorriso é como o sol,
A desabrochar nos jardins do crepúsculo.
Agora, tu estás aí imóvel.
Como pode dormir tanto?
Será uma metamorfose?
Ó meu deus que tristeza!
Abriram a caixa de pandora.
E minha rosa virou crisântemo.
Ó flor cruel, por que agora?
Devolva a minha rosa.
Ó perfeita e dedicada Rosa...
Tu sempre foste tão companheira,
Tão terna,
Tão constante,
Tão eterna.
Agora vais embora de repente,
A levar contigo minha alegria.
E se é assim, contigo eu irei.
Mas, como partir?
A navalha!
A navalha!
A navalha!
Ó lâmina fria,
Torne finita esta dor.
- E vendo minha face no objeto...
Engano-me como um mouro tolo,
Sem necessidade de um Iago.
Até que de repente...
Não mais que de repente.
Um súbito abraço me assalta.
Que delicioso susto!
Surpreendido no desabrochar.
Que sorriso!
Que perfume!
Que siso!
Que lume!
Ó deusa, como tu és perfeita...
Mas, porque demoraste tanto?
Esperavas a aurora para despertar?
- Não, eu só queria prolongar
[ nossos momentos.

Cristóvany Fróes

sexta-feira, 18 de junho de 2010

João ninguém

Não chores não João.
Tu não és ninguém,
Falta-te arroz com feijão
E o que vestir também.
Não te restou um tostão,
Amanhã Deus provém.

Não chores não João.
A alegria convém,
As dificuldades se vão,
O ano novo já vem.
Fevereiro aquela emoção
E fome ninguém mais tem.

Não chores não João.
Junte o teu vintém,
Compre uma televisão,
Um dia tu serás alguém.
Em junho nossa seleção
E que deus diga amém.

Não chores não João.
Tu não dormes bem,
A chuva levou teu colchão
E tu ficaste aquém.
Nada restou do barracão,
Fazes outro ano que vem.

Não chores não João...



Cristóvany Fróes

sexta-feira, 4 de junho de 2010

UNIVERSIDADE

A FILOSOFIA, ESSA NAVE DE INDAGAÇÕES,
NA ÂNSIA DE ENTENDER O PRÓPRIO HOMEM
E O UNIVERSO EM QUE SE VIVE,
VEIO UM DIA A SE CHAMAR EDUCAÇÃO.
ASSIM COMO UMA ÁRVORE,
SUAS RAÍZES MERGULHAM NO SOLO
E BUSCAM O SUCO DA VIDA NESSE AMOR DA TERRA,
SUAS FOLHAS OXIGENAM A MENTE DOS JOVENS,
QUE TANTO PRECISAM ASPIRAR UM FUTURO.
AH! A SUSTENTAÇÃO... O CAULE.
SÃO ESSES PROFESSORES QUE COM AMOR
TORNAM POSSÍVEL A EDUCAÇÃO.

EU OUSARIA ACRESCENTAR UMAS LINHAS
DA MINHA DA MINHA LAVRA...
ISTO É UMA PÁ – LAVRA.
MAS, POR QUE PÁ?
POR QUE LAVRA?
EU ENTENDO PALAVRA COMO UM INSTRUMENTO
DE PREPARO DO SOLO,
IMPLANTAÇÃO DE SEMENTE E COLHEITA.
COISA DE POETA? TALVEZ...
TALVEZ TAMBÉM SEJA PRECISO DIZER QUE O POETA
COMO ESCAVADOR DE UMA LINGUAGEM
É UM INTRUMENTO DE CONHECIMENTO E DE AÇÃO.
ASSIM COMO DEVE SER O CIENTISTA NO CONTEXTO
DE SUA SIGNIFICAÇÃO E CIRCUNSTÂNCIA.

A EDUCAÇÃO É O QUE HÁ DE MAIS URGENTE
NAS PROVIDÊNCIAS NACIONAIS E
NA CONSCIÊNCIA DE BRASILIDADE...
DAS DORES MAIS REAIS
E MAIS NAS ILUSÕES DE NOSSAS ALEGRIAS.
DELA APRENDEMOS O SENTIDO DA VIDA,
A EXTENSÃO DO AMOR,
O SENSO DE CRITICIDADE,
O QUANTO VALE O HOMEM,
O TIPO DE SUOR, DE FORÇA E DE CORAGEM.
E QUE SÃO DE DOCES E TRISTES COISAS
QUE É FEITA A VIDA.


[CRISTÓVANY FRÓES]

Unidade

A unidade transformadora
Das polaridades não mudou
Em nada este meu eu.
Deixou-me à deriva, vagando
No tempo, espaço, fato,
Como um falso traste.
Exatamente como fora antes;
Sem identidade,
Sem aspirações,
Sem valias.
Esta unidade não me abandonou,
Ela deu-me oportunidade;
De refletir,
De contestar,
De analisar.
Até chegar a conformidade
Do mais simples gostar de ser.

[Cristóvany Fróes]

Brasília

Corre sem decoro;
distrito desgovernado
Avança o sinal.

Dom

És simplesmente o tudo no todo
E o segundo na escassez do tempo.
Carregas a semente do principio
E o poder de abrir novos horizontes.

Tu és como a natureza, desafiando
E encantando ilustres pensadores.
Tu és como uma rosa de ativo olor,
Exalando amor e atingindo almas.

Tu és como um poeta, recitando
Doces versos e abrandando corações.
Tu és como a esperança, proporcionando
Sonhos e razões para continuar.

Tu és o alicerce das nações, dando
Equilíbrio e projeção ao homem.
Tu és sobre todas as coisas,
O âmago do sentimento maior.
Amor...
(Cristóvany Fróes)

quinta-feira, 3 de junho de 2010

ziguezague

Hoje a costura decide
O prazer desse ensejo.
Para cozinhar incide
Belas faces do desejo.

Cozer inspiração nossa
Para sustento do peito.
No dizer a boca possa,
Afirmar amor perfeito.

Uma bela companheira
Que saiba tecer o linho.
Mais que mulher rendeira
Nunca me deixe sozinho.

No ponto do ziguezague
Ternura de muitas flores.
Tecido que me afague
Como pétalas em cores.

Seus dotes não têm dano,
Ensina-me fazer renda.
Eu a ensino nesse plano,
A namorar como prenda.

No coser de cada passo
O casal não desvencilha.
A refazer cada laço
Do verso em redondilha.

Dos botões às casinhas,
Do duro brim ao veludo,
Das agulhas para linhas,
Ao bem que aquece tudo.

[Cristóvany Fróes]

Tique Taque

Chega uma lembrança.
Chega uma visão.
Chega uma esperança.
Chega uma ilusão.

Passa um ato.
Passa um nascer.
Passa um fato.
Passa um crescer.

Tique taque.
Tique taque.

Muda a rua.
Muda a cor.
Muda a lua.
Muda a dor.

Gira o paraíso.
Gira o lamento.
Gira o sorriso.
Gira o tormento.

Tique taque.
Tique taque.

Fica um som.
Fica uma vaidade.
Fica um tom.
Fica uma saudade.

Segue o lema.
Segue a lida.
Segue o tema.
Segue a vida.

Tique taque.
Tique taque.

Cristóvany Fróes

SE

Se o tempo ceifa, a vida segue.
Se morrer hoje, nasce amanhã.
Se o pecado é amargo doce é a maçã.
Se alguém afirma, há quem negue.

Se a face é clara, obscuro é o dorso.
Se a guerra é cruel, dela a paz depende.
Se falta coragem, a vitória não estende.
Se perder o talento, vence por esforço.

Se a saudade aperta, sinal que valeu a pena.
Se de repente caiu, é por que de pé estava.
Se há desespero, antes de esperança contava.
Se for egoísta, toda a consciência condena.

Se sente ódio, antes conheceu o amor.
Se encontrar defeito, antes foi vista a perfeição.
Se com frieza fizer, vai ocultar a emoção.
Se congela o peito, é tentar esconder o calor.

Se peso carrega, já conheceu a leveza.
Se for materialista, teme o apego a gente.
Se triste está, sempre esteve contente
Se for impolido, esconde a delicadeza.

Se desvencilhar um dia, já conheceu a fusão.
Se a pedra é rude, suave é a água que bate.
Se há vitória ou derrota, comodismo é empate.
Se o se fosse exato, não haveria suposição.

Cristóvany Fróes

Poltrona

Sempre há algo nocivo
Causado pela alienação
Dos meios de comunicação
A tornar o homem passivo

Para fazer uma revolução
É preciso muita atitude
A luta deve ser amiúde
Por meio da contestação

[cristóvany fróes]

Meus dias

Preciso não partir

A ter que te pedir

Preciso não ficar

Nesta sala vazia

Preciso acreditar

No que tu querias

Não que isso vá

Fazer-te minha

Preciso te encontrar

Em todos os meus dias

[Paulo Teixeira / Cristóvany Fróes]

Letras

Riscar, riscar, rabiscar...
Onde nada antes tinha
Letras e símbolos a criar.
Na margem da linha
Nasce a palavra em nós

Logo chega à boca
Da garganta tira os nós
A ânsia a deixa louca
Após mensagem nascer.
Com ardor, então, dizer.

[Cristóvany Fróes]

G & G

Gerindo gomo e a garra,
Na geada ou na garoa.

A genial garota guarda
O gesto e germina
O genuíno grão.

De grandeza e garbo,
Grita gracejando
E guiando glórias.

Gostosa, ganha na garganta
A galera e os galãs,
Garantindo a gota da gentileza.

Gamados gajos gaguejam
Ao glosar da gata
De gosto de graviola e glacê.

No gelado da garrafa
A gente em gládio,
Geme e gela goela.

Em gole de gim e Guaraná,
O glamour da gabiru
Gira nas galáxias.

E a Graice generosa
E graciosa, gera
Os gêneros garridos.

[Cristóvany Fróes]

Fascínio

Muito mais que uma descoberta,
É a visão de um mundo apraz.
A inspiração que tem Roberta,
Que o apogeu do saber nos traz.

As boas coisas sempre a cindir,
Sem abalar jamais o seu reduto,
Sem nunca na vida precisar pedir,
A sincera amizade como fruto.

Da estética a perfeição da tez.
Da doce voz a sutileza em falar.
Remete a vislumbrá-la outra vez,
A certeza na face e olhos a brilhar.

Tem uma serenidade em nada afã,
Absorvendo todo o bem calmamente.
Entre suas amizades sou seu fã.
Da aurora é Roberta simplesmente.

[Cristóvany Fróes]

Descobrindo

Eleger muitas palavras,
Em tecer signos, um mote.
Germinar de grandes lavras.
Para que um leitor note.

Fortes marcas explicitas,
Revelam mensagem clara.
Sutis formas implícitas,
Detalhar a face rara.

Dentre métrica, sentidos.
Relação de som, a rima.
Quartetos, tercetos, lidos.

Causam valor de tesouro.
Versos explicam à cima.
No desfecho, chave de ouro.

[Cristovany Fróes]

Atos e fatos

É preciso humanidade

É preciso gritar

É preciso utilidade

É preciso conquistar

É preciso entender

É preciso investir

É preciso conceder

É preciso resistir

É preciso ser real

É preciso contestar

É preciso ser leal

É preciso acreditar

É preciso ser forte

É preciso se animar

É preciso ter sorte

É preciso caminhar

É preciso ter missão

É preciso coerência

É preciso direção

É preciso consciência

É preciso desejar

É preciso uma labuta

É preciso viajar

É preciso boa conduta

É preciso dar sustento

É preciso um amor

É preciso estar atento

É preciso dar valor

É preciso clareza

É preciso uma nação

É preciso destreza

É preciso coração

Atos e fatos

Fazem e desfazem

[...A vida.

Cristóvany Fróes

Admirável

Em beleza é digna de veneração,
Lapidada por deus a cada instante.
Tem o senso maior de veneração,
Inteligência altiva sempre constante.

Belos cabelos jamais serão cãs,
Sorriso intenso nunca partir.
Exala o perfume suave das maçãs
Linda guerreia, nunca a vi carpir.

Ela lança na vida, gestos tão singelos,
Que um dia netuno ofertou-lhe o mar.
Andréa e divindade formam elos,
Ao ávido e carente sempre a amparar.

Um semblante que lembra néon.
Dos problemas oásis é Andréa,
Que ver em tudo um lado bom.
De amigos, um dia, terá platéia.

[Cristóvany Fróes]

Teimosia

Quando meu corpo perder a resistência
Ainda assim me manterei de pé
Quando as mãos perderem o tato
Ainda assim rabiscarei com atitude
Mas cadê a minha voz?
Oh, meu deus mataram a minha voz!
A sua ressurreição virá com um grito desumano;
Um grito de socorro,
De liberdade,
De alivio,
De atitude.
A máquina pensante em plena atividade
Criando, possibilidades de contestação.
E quando não houver mais nada;
Mais reflexos,
Mais aspirações,
Mais esperanças,
A morte enfim, estará declarada.
Apenas a morte do corpo, jamais do poeta.
E o poeta renascerá a cada amanhecer;
No gorjear dos pássaros,
No florescer dos jardins,
No reluzir dos astros.
Para loucamente a vida amar
E mais loucamente voltar a sonhar.


Cristóvany Fróes

Musa

De olhos gris, nos inspira conhecer.
Espontânea, verdadeira e doce voz.
Elegante em toar, cativa todos nós.
Ah, se todas fossem iguais a você.

Graciosa presença como quimérico
Perfeito sorriso estende-se infinito
Corpo informado como monólito
Cabelos seda nos levam ao esotérico.

Musa humilde inspira essa ode
Irradia humor que amigos colhem
Caráter e sinceridade como pólen
Nessa vida sã Graice tudo pode

Pensamento terno e mundo a conceber
Com idéias de paz, como sempre quis.
Tão serenas e suaves como a flor de lis.
Ah, se todas fossem iguais a você.

[Cristóvany Fróes]

Memórias

(A Christian e Isis)

As Lembranças vem,
As lembranças vão,
As lembranças vão e vem.
É só soltar a imaginação,
Onde tudo tem.
Bebendo e sorrindo,
Com profunda comoção.
Tristeza partindo.
Sentimentos sim,
Solidão não.

Terra querida, enfim:
Abordada,
Buscada,
Lembrada.
Como ao passado voltar:
Infância,
Adolescência,
Velhice jamais.
Almejando conquistas.
Talvez hoje,
Amanhã,
Depois,
Tanto faz.

O importante é vislumbrar...
Cada momento da nossa história.
Derrotas não e sim glórias.
Momentos que ficaram...
[...Em nossa memória.

[Robson Andrade/Cristóvany Fróes]

Itinerário

Antes de ônibus seta seguir,
Desce na esquina, sem direção.
A conquistar gajos e prosseguir
No namoro de curta duração.

Pseudônimo sempre a salva
No trabalho com a liberdade
Mesmo com título de Dalva
Preza de orgulho e vaidade

Na boite mostra arte da dança,
A chamar para o acasalamento,
O libidinoso que coração balança,
A pagar por um fugaz casamento.

Escrito na tabuleta em giz,
O valor pago pela ninfeta,
E talvez pela madura condiz,
A soma na ponta da caneta.

Vendo garotos, corre para cima
A deixar as vestes por um triz
Justificando ser sempre a “prima”.
E com “arte” atua, a mera atriz.

[ Cristóvany Fróes ]

Fragmentos

Acordei!
Levantei!
Nada vi,
Nada ouvi.
A cegueira e a solidão
Conspiraram entre si.
E eu ali entre a luz
E a escuridão, como um cego.
A solidão dói muito...
E o silêncio não é de tudo ruim,
Mas me transmite uma falsa paz.
A cegueira age como um Constante
Nevoeiro na linha do horizonte,
Privando-me de ver a beleza da vida.
Até que um dia,
Descobri o caminho da visão;
Ser social,
Ser amigo,
Ser verdadeiro.
Estender a mão,
Abrir um sorriso.
E no fundo do âmago,
Renascer um novo amor,
Desfazendo todo o mau;
Nem cegueira,
Nem nevoeiro,
Nem solidão;
Nada, porém, a perturbar.
Agora voltar a sentir,
A nítida paisagem
E obter a força de tornar
Fugaz toda solidão.

Cristóvany Fróes

Fantástica

Um olhar doce de menina flácida,
Charme de mulher feita e tímida.
O lirismo que tem Cristina plácida,
Com jeito de beleza perfeita e vívida.

Presença de força, encanto e ética.
Thais revela uma elegância súbita.
A firmeza causa espanto na estética
E a inteligência para ela é súdita.

Thais é sempre açucarada e tática
E tende a esbanjar nobreza e músculo.
Cristina é a mulher delicada fantástica
E mostra-nos a beleza como crepúsculo.

Houve um acidente no curso esotérico,
Thais corria mundo sem enfoque e crédito.
Cristina andava contente como quimérico,
Opostas, a fusão vem no choque inédito.

Surge a deusa dourada como espetáculo,
Thais Cristina traz brilho à vida lânguida.
Alegria de ser adocicada, se doa sem cálculo.
No seu âmago é lida a virtude esplêndida.

[Cristóvany Fróes ]

Eterna Busca

Em outros lábios, o teu sorriso.
Em outras senhoras, teus desejos.
Em outras mentes, o teu siso.
Em outras bocas, os teus beijos.

Em outras mãos, tuas caricias.
Em outras presenças, teu perfume.
Em outros ventres, tuas primícias.
Em outras almas, o teu lume.

Em outros olfatos, tua respiração.
Em outras casas, o teu lar.
Em outras fantasias, tua emoção.
Em outras cadeiras, teu rebolar.

Em outros eus, tua bagagem.
Em outros olhos, o teu olhar.
Em outras luas, tua viagem.
Em outros caminhos, teu trilhar.

Em outros vislumbres, tento te ver.
Em outros ensaios, um eu inquieto.
Em outras mulheres, busco teu ser.
Em outras, nunca teu eu por completo.

[Cristóvany Fróes]

Dor

Eu queria ser parte da tua vida
Um fato, uma lembrança.
E não a mão que balança
Com o adeus da tua ida.
Eu queria de altivo porte
Estranho e duro, um verso.
Que meu clamor suporte
Por todo esse universo

Meus anseios ninguém adivinha
A minha dor não fala, anda sozinha.
Ó neve caída sobre o peito aquecido
Ó neblina, que cega visão minha.
E me impede enxergar um afeto oferecido

Minhas noites sempre tão escuras
Talvez por falta da tua luz
A deixar no peito uma amargura
Que desmaia na aurora e reluz
E minha alma a soluçar de dor
Bendita seja a lua, que seduz.
E bóia no céu como ave de condor
Bendito seja o mar que rir e encanta
A imensidão com o seu verdor

E eu a clamar de emoção tanta
Um beijo a mim reservado
Ou abraço que a solidão espanta
Tão grandioso como o corcovado.

Cristóvany Fróes

Diferencial

Nem todo retorno é feliz
Nem todo dinheiro é suado
Nem todo pensamento se diz
Nem todo coração é alado

Nem todo português é Mané
Nem todo romance é perfeito
Nem todos caminham com fé
Nem todo abraço vem do peito

Nem toda batalha tem glória
Nem toda ajuda convém
Nem todo feito é história
Nem toda intenção faz bem

Nem todo beijo é ardente
Nem todo momento é fugaz
Nem toda rima é repente
Nem todo desejo é voraz

Nem todo nascer é rebento
Nem toda ligeira é edlene
Nem toda fama é talento
Nem todo evento é solene

Nem toda ajuda é bem vinda
Nem todo jovem é moderno
Nem toda Graice é linda
Nem todo amor é eterno

Nem todo mundo tem alma
Nem toda Andréa é perfeita
Nem toda Ruth é calma
Nem toda amizade é aceita

Nem toda vitória é por sorte
Nem toda Roberta é fascínio
Nem toda Thais é tão forte
Nem todo balanço é declínio

Nem todo amigo nos trai
Nem toda jôse persiste
Nem toda Mirella atrai
Nem toda musa existe

Nem toda origem é mistério
Nem toda idéia é esquema
Nem todo discurso é sério
Nem toda negação é poema

Cristóvany Fróes

Vilancete

Mote:

No alicerce a moral não sugere,
Os colonos que cuidam dessa terra;
Degredados que o estado encerra.


Voltas:

Oh, quanto castigo na cor da pele.
Nus da terra na fé manipulados.
Nobres hirtos seriam exilados?
Lutar pelo poder nunca sugere
O valor do homem que ferro fere
Ouro e prata de suor dessa terra.
Degredados que o estado encerra


Barganha ultramarina mercante
Máquina que navega leva o cobre
Laborioso nato sempre pobre
Gentil pátria amada amante
Com colonos de rigidez constante
No presente o sistema também erra
Degredados que o estado encerra.

[Cristóvany Fróes]

Um fim

Quando derrubam castelos
Nunca se sabe o que dói mais
Um oceano desfeito
Um coração sem vida
Um sonho interrompido
A voz que se calou
Os olhos que se fecharam

Nasce uma saudade
E o tempo que não passa
Um dia
Um ano
Um século
Talvez um vazio
Como lidar com tantas incertezas?

Muitas coisas vêm a perturbar
As lembranças que perseguem
As aspirações que se perderam
As várias faces de uma dor
Logo vem a tristeza de um adeus
E a esperança de um novo começo

( Cristóvany Fróes )

Reflexo

Nada a ser visto
Nada além da imagem
Nada mais que isto:
Beleza,
Encanto,
Nobreza.
Tristes vaidades

Julgando a face
Não vêem o disfarce
Sem momento
Sem convicção
Sem sentimento
Pobres mortais
Reféns da imagem.

Não sabem ser...
Traem o amor
Perdem a razão
Descobrem a dor
Não têm coração.

( Cristóvany Fróes )

Matemática

Apaixonados,
Somamos nossos corações,
Que se fundem,
A tornarem-se apenas um
Esse novo coração
Fica dividido
Apenas por dois respectivos corpos
Cada um deles retém a metade
Contando os minutos,
Diminuindo a distancia,
Calculando os desejos
Para ardentemente juntos
Multiplicarmos os sonhos.

( Cristóvany Fróes )

Lua roubada

A lua que era dos poetas
A ciência roubou
Vou recorrer às estrelas
Para falar de amor

Nas estrelas tenho esperança
De um dia voltar a amar
E ouvir o sorriso da criança
Como uma canção de ninar

Vem a ciência tentando destruir
Toda chance do homem sonhar
Com as estrelas espero construir
Lindos castelos a beira mar

A beira mar eu rogo a deus
Que de volta me traga a lua
E todos os poetas que são seus
E que a minha vida seja sua

Os astros e os poetas são amantes
Quando Juntos adocicam a vida
Entregam-se a amores constantes
Felizes brindam à ciência vencida

A lua que era dos poetas
A ciência roubou
Vou recorrer às estrelas
Para falar de amor

[Nevas Amaral / Cristóvany Fróes]

domingo, 30 de maio de 2010

Voses

Um mote para desenvolver,
Uma técnica para aplicar,
Um recurso para um efeito.
Serei melhor sem tudo isso?
Talvez!
A palavra pode ser dom,
A palavra pode ser dor,
A palavra pode ser som,
A palavra pode ser amor.
Eu suplico que me crie,
Faça-me existir...
Eu estou pronto no teu inconsciente;
Dê-me forma,
Dê-me sentido,
Dê-me vida.
Eu sou aquele que tu escreves,
[Depois risca, apaga ou joga fora.
O verso abandonado na escrivaninha,
[Por vezes lido e relido por terceiros.
Eu sou a pedra do caminho:
A pedra que não pensa,
A pedra rude e forte,
A pedra para tropeçar,
[Nessa brincadeira de futuro.
Sou eu quem te oferece pasargada.
Eu valorizo o berço lá no exílio.
Eu sou o puro verso do monte castelo,
[A voz que grita sem ser escutada.
Eu sou a manipulação,o fechar dos olhos...
[E o elã, nas mais duras críticas sociais.
Eu sou o pássaro a bater em teus umbrais,
[E a aurora que os anos não trazem mais.
Eu sou a verdade tristonha,
[E aquela mentira risonha.
Eu sou a mutação contínua...
A descoberta das coisas que
[Nunca tivera visto.
O que há de mais forte no poeta
[É transmitido em mim.
Eu não quero ser moda!
Não quero ser reflexo,
Não quero ser resposta,
Não quero ser inatingível.
Eu quero apenas ser...
O sonho é o que há de mais concreto.
E a realidade, o verdadeiro delírio.

( Cristóvany Fróes )

Tudo bem

Que alegria!
Puxar carroça
E ver colarinho descansar,
Deitar na calçada
Sem ser notado.
Oh, que paz!
Lá no distrito tudo bem,
Aqui não temos fome.
Comer para quê?
Fome agora é dieta
Vamos emagrecer...
Quem precisa de ajuda?
"Somos livres"
A rua é nossa.
Sol,
Chuva,
Calor,
Frio.
Coisas da natureza
Sempre superamos.
Tudo se compra,
Tudo se vende,
Tudo se busca.
O surdo ouve e aceita,
O mudo copia a fala,
O cego vê e finge.
Para que ir à escola
Se todos aprendem
On line ou via satélite?
Escravos,
Escravos,
Escravos.
De onde tiram isso?
O costume servil
Sempre nos serviu.
Ainda há quem reclame...

[Cristóvany Fróes]

Pretender

Saudade vai
Saudade vem
Saudade cai
Viver convém

Amigo distante
Peito aberto
Bom instante
Está perto

A paz alcançar
Neste momento
Valsa dançar
Com sentimento

E deste universo
Em breve vier
Dentre o verso
Uma mulher

Que se desdobre
Com clamor
E seja nobre
Em te dar amor

[Cristóvany fróes]

Contemplar

Vamos contemplar...
Os punhos ativos a escrever,
Os poemas que são digeridos,
Os versos que ficam na alma.

Vamos contemplar...
As influências fortes da Bahia,
As sereias que cantam nas praias,
As Gabrielas sob o luminoso sol.

Vamos contemplar...
Os poetas amadores falam do âmago,
Os efeitos causados com pureza,
Os motes que surgem por acidente.

Vamos contemplar...
As mulheres que sabem o que quer,
As paixões que rasgam o peito,
As diversas razões para amar.

Vamos contemplar...
Os anos que correm como rios,
Os tempos que temos para viver,
Os verões e invernos tão esperados.

Vamos contemplar...
As águas de dezembro a lavar o fim,
As esperanças que movem um recomeço,
As coisas possíveis e as impossíveis.

Vamos contemplar...
Os rostos marcados pela experiência,
Os fatos que nos ensinam diariamente,
Os dias que nos restam para aprender.

Vamos contemplar...
As noites serenas de todos os amantes,
As estrelas que proporcionam viagens,
As doces luas como o mais puro mel.

Vamos contemplar...
Os inquilinos do peito que moraram sem pagar,
Os sonhos que inspiram ainda o viver,
Os diversos modos da nossa contemplação.

Vamos contemplar... A vida.

(Cristóvany Fróes)

Marcante

Dia cinza dia nu,
Dia cinza dia nu.
Um silêncio incômodo,
Nada se ouve.
Nada!
Nem pássaro,
Nem vento,
Nem mar.
No peito, intempéries.
Sem brilho, descolore,
Tudo!
Da planta, a cicuta,
Do chão, o abismo,
Da rosa, os espinhos.

De repente, se ouve passos.
Será música incorpórea?
Ao longe vem a Tereza;
Canta pássaro,
Sopra vento,
Há ondas ao mar.
Surge, então, um sorriso...
Tudo brilha,
Tudo brilha,
Tudo brilha.

O peito se acalma,
As cores se revelam...
Da planta, a cura,
Do chão, o amparo,
Da rosa, as pétalas.
Sinos são ouvidos;
Calafrios são sentidos,
Arrepios ao corpo...
Chega a Tereza,
Toda envolvente.
O dia se veste
E nasce o sol.

[Cristóvany Fróes]

O casulo

O em si era um óvulo maduro.
Sensível como o verso em flor,
Que penetra sem causar dor,
Na existência do mundo duro.

Contudo,em si muito contente,
Nada perturba seu germinar.
Os pássaros gorjeiam doce ninar,
Que embala e o torna resistente.

Um dia, porém, explode-se o ovo,
Nasce, então, uma mulher rutilante,
Trazendo paz a todo instante,
Dando esperança de mundo novo.

Ruth, como água para beber,
Não surgiu no cosmo em vão,
Veio saciar a sede da emoção,
Onde seu bem maior é o saber.

Sua presença sempre tem efeito,
De um trovador no seu momento,
Realçando o azul do firmamento,
A introduzir o em si em nosso peito.


[ Cristóvany Fróes ]

FOTONALISA

Na parede da sala a fotografia da mulher
Dirige-me um penetrante e atraente olhar.
Induzindo-me a retirá-la da parede.
Fascinado, eu a tenho em minhas mãos,
Como uma rosa de perfume suave e indefinido.
Uma penumbra invade o interior do ambiente
E louco de tanto desejo, me desespero:
Choro,
Grito,
Clamo.
Eu a provoco, como se quisesse trazê-la à vida.
Uma hipnose paralisa-me enquanto eu vejo
Nascer em seu peito, um grande coração...
E na animação de um tique taque a bombear
Sangue por todo o seu corpo, ela revela-se viva.
Como uma pluma, suavemente levanta-se.
Abraça-me,
Beija-me,
Toma me.
De repente, não mais que de repente.
Ela pega-me em seus braços e decola,
Desafiando as forças da gravidade,
Proporcionando-me mágicos momentos...
Diante dos olhos, tenho todos os astros:
Planetas,
Cometas,
Estrelas...
E então, chegando à majestosa lua
Ela deixa-me à deriva e se vai sem dizer adeus.
Acordei atordoado, sem nenhum lamento,
Pois a fotografia não dá o movimento.

(Cristóvany Fróes)

Ausência

Falar sem dizer
Escutar sem ouvir
Enxergar sem ver
Cheirar sem sentir

Tatear sem toque
Florescer sem colibri
Criticar sem enfoque
Cantar sem timbre

Existir sem nome
Vencer sem labor
Comer sem fome
Beijar sem sabor

Doer sem oásis
Sonhar sem desejo
Brigar sem pazes
Namorar sem cortejo

Afagar sem abraço
Amanhecer sem alvorada
Descansar sem regaço...
É o viver sem a amada.


( Cristóvany Fróes

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Corpo atropelado

Quem me ver assim sempre a sorrir
Não sabe o que sinto, nem quem eu sou.
Não sabe que passou um dia a dor
A minha porta e nesse dia entrou.
Desde então,
Tudo é tristeza
Tudo é pó
Tudo é cinza
É nada.
E mal dispondo em mim a madrugada,
Vem logo essa dor encher o coração,
Deixando o velho corpo atropelado.
E o peito despedaçado.
Não, não choro mais.
Perdi a liquidez da dor...
Nessa vida levo muita coisa:
Olhos cansados
Sonhos desfeitos
Pés retroativos
Vestígios de saudades
Verdades falsas
Desesperos
Pessoas que ficaram
Pessoas que se foram
Pessoas que magoaram
Vitórias com gosto de derrotas.
Muitas coisas para conquistar
E a languidez a desanimar
Tantas ilusões
Tantas mentiras
Tantas aflições
Fica o corpo como traste
Imóvel como haste
Sem nada a oferecer
Sem forças para prosseguir
Sem ninguém a condoer
Apenas a mente recalcitrante
Resiste às armadilhas do tempo
Transformando o que é pungente
Na esperança de um alivio.


( Cristóvany Fróes)

EXCÊNTRICO

Excêntrico!
Nada mais que excêntrico
Um homem comum
A buscar versos simples.
E no centro de um mundo,
Descobre seu humanismo.
Passa noites em claro
Viajando em devaneios.
Escuta o barulho do silêncio.
Ama as anáforas,
Ama os adjetivos,
Ama a idéia de amar.
Prolonga os bons momentos,
Reproduz a natureza
Em surto de naturalismo.
Constrói castelos de areia
E se o vento os derrubar,
Edifica outros, ainda maiores.
E se muda para lá.
Não tem sono,
Não tem sede,
Não tem fome.
A poesia lhe serve de sustento;
Ela oferece muitos eus
Dentro de seu próprio eu
Não é clássico, nem ortodoxo,
Mas admira antigos estilos.
E quando deixa de escrever:
Mata o bom gosto,
Mata o bom senso,
Mata o romantismo.
Seria um assassino? Jamais.
Talvez um amante do realismo,
A se basear em fatos para fantasiar.
De repente, com caneta em mãos.
Na ânsia de produzir,
Cria vida nova, novo vigor,
Em um possível renascimento.
E na liberdade da arte moderna,
Sem se preocupar com métrica,
Germina um verso estranho e livre.

[Cristóvany Fróes]

Um eu

O meu peito não batia assim tão sem entusiasmo
Como este tão vazio.
Ele era valente, só se rendia ao amor.
O meu sorriso não era assim tão pálido
Como este tão sem graça.
Ele era sonoro e encantava.
Os meus braços não eram assim tão cedentes
Como os fracos de hoje.
Eles eram ativos e robustos
Os meus olhos não eram tão ofuscados
Com estes abertos na cegueira.
Eles viam além do horizonte.
Os meus cabelos? Há esses já se foram,
Como areia a esvair na ampulheta.
Eles eram presentes e voavam.
Os meus beijos não eram assim sem sabor
Como comida sem tempero.
Eles provocavam diversos suspiros.
Os meus poemas não eram assim tão frios
Como palavras em vão.
Eles tinham graça e efeito.
Os meus ouvidos não eram assim tão surdos
Como estes obstruídos.
Eles ouviam a nona sinfonia.
Os meus pés não eram assim tão sem força
Como alicerce de nação falida.
Eles tinham passos firmes.
Os meus gritos não eram assim tão abafados
Como estes já sem voz.
Eles tinham força e liberdade.
Tudo isso porque um dia
Narciso esqueceu de olhar para dentro
Do seu verdadeiro eu.

( Cristóvany Fróes)

Ziguezague

Ziguezague

Hoje a costura decide
O prazer desse ensejo.
Para cozinhar incide
Belas faces do desejo.

Cozer inspiração nossa
Para sustento do peito.
No dizer a boca possa,
Afirmar amor perfeito.

Uma bela companheira
Que saiba tecer o linho.
Mais que mulher rendeira
Nunca me deixe sozinho.

No ponto do ziguezague
Ternura de muitas flores.
Tecido que me afague
Como pétalas em cores.

Seus dotes não têm dano,
Ensina-me fazer renda.
Eu a ensino nesse plano,
A namorar como prenda.

No coser de cada passo
O casal não desvencilha.
A refazer cada laço
Do verso em redondilha.

Dos botões às casinhas,
Do duro brim ao veludo,
Das agulhas para linhas,
Ao bem que aquece tudo.

[Cristóvany Fróes]

FLORESCER

Hoje é domingo, amanhã é segunda.
A vida vai e vem como o crepúsculo
E a alvorada no nascer e findar de um dia.
O nosso senhor ressuscitou e com ele, a paz.

Hoje é domingo, amanhã é segunda.
No rebento surge Sakura, a bela cerejeira,
É muita bondade do nosso senhor Jesus
Oferecer a árvore a um pequeno samurai.

Hoje é domingo, amanhã é segunda.
Amanhã samurai não abraça a cerejeira,
Hoje é que é o dia do carinho, o presente.
E o dia é domingo, para árvore e samurai.

Hoje é domingo, amanhã é segunda.
Há um belo florescer e um frutificar
Fenômeno que atrai os amantes da beleza
O tempo é agora, amanhã um talvez.

Hoje é domingo, amanhã é segunda.
Impossível não perceber uma amizade
Neste momento a árvore já faz parte do homem
E em cada florescer reforça ainda mais a ternura.

Hoje é domingo, amanhã é segunda.
O samurai namora à sombra da cerejeira
Nasce, então, amiga confidente de seus amores.
Hoje há um himeneu e um novo desabrochar.

Hoje é domingo, amanhã é segunda.
Filhos e netos brincam ao redor de Sakura.
Há um renovar na esperança dos homens
E o dia é domingo, jamais deixará para amanhã.

Hoje é domingo, amanhã é segunda.
O espadachim já não é o jovem de outrora.
Todos os seus amigos de infância morreram
Trezentos anos de alegrias e muitas tristezas.

Hoje é domingo, amanhã é segunda.
A cerejeira é a única amiga que lhe restou
No domingo à sombra ele conta seus delírios
As vantagens e desvantagens de viver tanto.

Hoje é domingo, amanhã é segunda.
Não há mais sombra, a árvore secou.
O samurai a espera por um verão inteiro.
A árvore o deixou sem dizer adeus.

Hoje é domingo, amanhã é segunda.
Há um homem triste, sem razão à viver.
O povo é generoso e dão-lhe outra cerejeira.
Mas em seu peito nada substitui aquele elo.

Hoje é domingo, amanhã é segunda.
O samurai quer vê-la florescer mais uma vez.
Decide, então, doar sua vida à cerejeira.
Com a espada abre o peito e libera seu espírito.

Hoje é domingo, amanhã é segunda.
O seu espírito se funde a árvore, que se revela.
Assim como o pai, ela vem trazer esperança.
Amanhã é segunda e o futuro está além.

Hoje é domingo, amanhã é segunda.
O samurai se vai para Sakura viver.
Para que seja mais belo o nosso presente.
E o dia é domingo, segunda, é outro dia.

Hoje é domingo amanhã é segunda.
Todos os anos o povo se reúne no pomar
Para ver florescer o espírito do samurai
E renovar a esperança em seus corações.

( Cristóvany Fróes)

O sono

Na ânsia de escrever
Deixo o tempo esvair
Criação há de prover
O lugar aonde ir

O sono que me chega
Interrompe o poema
Surge figura da nega
A provocar a cena

O regaço me chama
Ao leito de tatame
Lá há moça bacana
A espera que eu a ame

Eu o único candidato
A tê-la eternamente
Na folha o retrato
Do romance ardente

Viajo como Macunaíma
Como fez o velho Mário
Nos braços da menina
Inventada no diário

Acordo seguinte dia
No impacto do susto
Ao ver cama vazia
Acredito com muito custo

Lá, musa não havia,
Apenas uma viagem
Que a mente fantasia
No texto sem margem

De caneta em punho
E olhos no teto
Percebo o rascunho
Do poema incompleto

( Cristóvany Fróes)

Lugar

Dentro do peito uma certeza
A paz nunca estará fora dele
Acima de tudo está o pai
E abaixo dele fica o homem,
Vivendo debaixo desse sol.

Aqui na terra procura o sentido
Embaixo dela a busca encerra.
Eu afã, escrevo o que vejo ali.
Adiante, o horizonte a fascinar,
Detrás dele o vivente a sonhar.

Querer alcançar o que está longe...
É não pensar no que está acolá,
Nem no que atrás se esconde.
E estando aquém da conquista
Fico eu sonhando onde estou.

Se lá, há uma felicidade a viver...
Perto, mais esperançoso eu existo;
Quimérico, eu já não sei aonde vou.

[ Cristóvany Fróes]

Dulce verso

( à minha mãe)


Minha mãe me deu um verso
Que concebeu bem materno
No ventre eu transverso
Provocar nascer eterno

Minha mãe me deu um verso
Feito com muita labuta
A abrir outro universo
Por mulher de boa conduta

Minha mãe me deu um verso
Em me dar honestidade
Jamais caminho inverso
Nem orgulho ou vaidade

Minha mãe me deu um verso
Com suor me deu comida
Eu vendo mundo diverso
Apressei minha partida

Minha mãe me deu um verso
Longe bem querer aumenta
Dele nunca desconverso
Que este peito agüenta

Minha mãe me deu um verso
Nada, porém, nos separa.
Mesmo estando adverso
Seu carinho me ampara.

Minha mãe me deu um verso
Para minha vida pegue
Este amor que converso
Com Dulce feliz prossegue

[Cristóvany Fróes]

Dia a dia

Mulheres são raízes
Mulheres são estranhas
Mulheres são felizes
Mulheres são façanhas

Mulheres são ágeis
Mulheres são piradas
Mulheres são amáveis
Mulheres são saradas

Mulheres são sedosas
Mulheres são olores
Mulheres são dengosas
Mulheres são sabores

Mulheres são ruas
Mulheres são cidades
Mulheres são luas
Mulheres são saudades

Mulheres são poderes
Mulheres são ternas
Mulheres são quereres
Mulheres são eternas

Mulheres são solteiras
Mulheres são casadas
Mulheres são inteiras
Mulheres são ousadas

Mulheres são meninas
Mulheres são ocultas
Mulheres são genuínas
Mulheres são adultas

Mulheres são aves
Mulheres são sensíveis
Mulheres são naves
Mulheres são incríveis

Mulheres são critérios
Mulheres são faceiras
Mulheres são mistérios
Mulheres são guerreiras

Mulheres são fascínios
Mulheres são hilárias
Mulheres são domínios
Mulheres são necessárias.

[Cristóvany fróes ]

Viajar

Levanto,
Tento partir
Mas, incompetentes
Os pés não obedecem.
O corpo verga e cai.
E no monturo
Tento reagir.
Sem êxito, apenas a mente,
Aventura-se a prosseguir.
Embarco na linha do horizonte
E vou...
Viajo nesse lá sem fim.
Onde não há danos.
E no cosmo toco estrelas
Como harpas em leve toada.
Flutuo como a lua
A fascinar e roubar amantes
E em um mar azul
Navego em barcos de papel
Rumo ao desconhecido
Sem limite
Sem vertigem
Sem dor.
Infinitamente além.
Infinitamente só.

[Cristóvany fróes]