quinta-feira, 28 de abril de 2011

O belo de outrora

Quando me vir
passar,
não digas que sou
louco, excêntrico
ou que me queres
falar...
O meu amor
não precisa de elogios,
nem quer ser
correspondido.
É sublime!
Sublime!
Vive apenas
em saber de tua
existência.
Se te aproximas
de mim
mostra-te carnal,
um defeito
para o belo.
E para ser essa figura
pitoresca,
basta-me que
estejas nos limites
de minha visão.
Assim como a aurora
a causar admiração
e espanto
no enrubecer dos céus,
mas ninguém a possue.
Ter a ti
quebraria o encanto,
causaria-me dor.
Porque a posse
trai a pureza
e o amor.

[ Cristóvany Fróes ]

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Ar[dor]

Corre,
de pés no chão
levanta voo.

Sente o enjoo
da paixão.

No peito,
passarinho,
canta canta
de mansinho.

O medo se espanta!
E quem é o ardor
para dizer;

Como a dor
vira prazer.

[ Cristóvany Fróes ]

Máscara

Todo meu eu
é máscara,
que insisto chamar
de elmo.
A minha defesa
é sempre
contra mim mesmo;
defesa de intempéries
pensamentos
sobre o que não
sou.
Ah, se eu fosse
o cântaro
lá do canto da sala,
que de tão pitoresco,
pudesse cantar...
Encantar por si só,
sem pensar.
E se quebrasse
um dia,
ainda sim,
o ruido seria
a mais doce toada
do alaúde,
tocado
pelos arcanjos
para os deuses.
E assim,
eu seria música.

[ Cristóvany Fróes ]

Migalhas

Tu vens!
Deita,
debruças em mim.
Sou regaço,
assim
eu me faço;
confidente em tudo.
Se entendo,
opino.
Senão,
calado fico.
Como um sem teto,
Vão eu sou.
Valho-me do afeto
que sobrou
da noite passada.
Ele não quis
e tu me deste
sem pensar...
De uis e ais
eu amadureço
porque que quero
e mereço
muito mais.

[ Cristóvany Fróes ]

Liberdade (menor poema do mundo)

O ovo,
abriu,
voo.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Idas e vindas

Quem vai leva saudade
E deixa saudade em alguém
Joga de lado a vaidade
E sente saudade também

Quem chega saudade mata
Que faz lembrar o convívio
Dessa coisa tão ingrata
Que reencontro traz o alivio

Quem fica guarda saudade
A esperança gira em torno
De uma grande amizade
Cujo prêmio é o retorno

Quem vem traz lembranças
Em doceamarga bagagem
De incertezas e confianças
Frutos de uma viagem

( Cristóvany Fróes)

terça-feira, 12 de abril de 2011

Leilão da Saúde

O hospital maternidade em que nasci
[Foi o Santa Isabel;
Não era perfeito, mas funcionava...
Quantas crianças nasceram,
Quantas esperanças de futuro,
Quantos sonhos se fizeram.
E os milagres? E a cura?
Ó Santa Isabel, tu eras o berço de uma
[existência;
Tu fostes sempre uma referência ilheense,
Tinhas o valor que o cacau nunca teve.
Tu tornavas possível a vida humana,
[o rebento.
Agora há ao redor de ti somente ecos...
E não são choros ou sorrisos de crianças.
Não!
Os ecos são ensurdecedores, ferem os
[nossos ouvidos e a moral ...
Eles são de verdadeiros pregões.
Como se uma feira livre se formasse em
[torno de ti;
-Olha o berçário! Quem vai querer?
-Olha a identidade ilheense!
-Olha o Santa! -Olha o Santa!
-Quem dá mais? -Quem dá mais?
E na batida final do martelo, tu foste vendido
[para o cidadão de gravata.
Tu és agora uma propriedade privada, privado
[de voltar a ser uma maternidade.
O que farão de ti, ó Santa Isabel?
E o que será das novas gerações?

[Cristóvany Fróes]