sexta-feira, 28 de maio de 2010

Um eu

O meu peito não batia assim tão sem entusiasmo
Como este tão vazio.
Ele era valente, só se rendia ao amor.
O meu sorriso não era assim tão pálido
Como este tão sem graça.
Ele era sonoro e encantava.
Os meus braços não eram assim tão cedentes
Como os fracos de hoje.
Eles eram ativos e robustos
Os meus olhos não eram tão ofuscados
Com estes abertos na cegueira.
Eles viam além do horizonte.
Os meus cabelos? Há esses já se foram,
Como areia a esvair na ampulheta.
Eles eram presentes e voavam.
Os meus beijos não eram assim sem sabor
Como comida sem tempero.
Eles provocavam diversos suspiros.
Os meus poemas não eram assim tão frios
Como palavras em vão.
Eles tinham graça e efeito.
Os meus ouvidos não eram assim tão surdos
Como estes obstruídos.
Eles ouviam a nona sinfonia.
Os meus pés não eram assim tão sem força
Como alicerce de nação falida.
Eles tinham passos firmes.
Os meus gritos não eram assim tão abafados
Como estes já sem voz.
Eles tinham força e liberdade.
Tudo isso porque um dia
Narciso esqueceu de olhar para dentro
Do seu verdadeiro eu.

( Cristóvany Fróes)

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