terça-feira, 22 de novembro de 2011

Regressão

Triste regressão!!!
Vil metais
compram vícios,
e o homem
se desumaniza...
Não crie ópios
para viajar...
O pensamento
é a melhor nave
espacial.
Ah, como é lúdico
o pensar...
Libertar a criança
dentro de si,
reencontrar valores
perdidos no caminho...
Não!!!
Não desperdice
sentidos,
não seja doentio.
Fume beijos,
beba volúpias,
cheire sedução,
tome carinho,
injete na veia, amor.
Não há cura contra
todos os males...
O emplasto só existe
nas memórias
póstumas...
E a lucidez da vida
é a própria loucura...
De viver.

( Cristóvany Fróes )

sábado, 19 de novembro de 2011

Ao cair da noite

No entardecer,
crepúsculos cinzentos
encerram os dias de luz.
Os mágicos sonhos
perdem-se no infinito
das tardes de rosas.
Êxtases em flor
enganam a morte
que me jura.
A noite pousa devagar
e lamentos de dor
revelam-se na escuridão.
A lua chega,
e soluços de medo
calam-se diante
deste condor noturno.
Com lanças no peito,
ventos amargos
desenham solidão.
Pálpebras roxas
veem átropos no asfalto,
em gemidos abafados.
Árvores toscas abrem
aos céus os galhos
e clamam himeneus.
Partem os versos
e fica meu corpo jaz
sobre a fantasia...
No esplendor,
a alvorada surge
com seu castelo de luz.
O amanhecer renova as
esperanças,
e recomeça para então,
um novo dia...

( Cristóvany Fróes )

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Desalento

Eu sou a sombra do penhasco,
o suicídio impensado.

Eu sou a mágoa sem motivo,
a angustia contínua.

Eu sou o choro incessante,
o grito no deserto.

Eu sou a amargura do boldo,
a saliva indegustável.

Eu sou o passado esquecido,
o ser invisível.

Eu sou o caco de vidro,
o corte profundo.

Eu sou o sonho que passou,
o pesadelo contínuo.

Eu sou a triste morte lenta,
a dor incessante.

Eu sou o dorso chicoteado,
O réu sem defesa.

Eu sou o terrível desespero,
a flor despedaçada.

Eu sou a espera de um alguém...
Que nunca apareceu.

( Cristóvany Fróes)

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Joguinhos

Finge não me ver.
Bela, joga os cabelos,
e passa.

Faz-se desentendida,
como paisagem, vai
encantadora.

Sinto-a dissimular...
Fala alto, quer ser
percebida.

Eu me aproximo,
rápido se afasta.
Eu a chamo...

Não me ouve, insisto.
Ela, então, grita:
- Sai!!!

Tento agarrá-la,
recusa-me.
E eu a pego...

Ela se esperneia
Puxo-a para mim,
roubo beijos...

Cruel, morde-me...
Mordido eu a beijo
de novo.

Agora com fervor.
Eu a pego no colo,
ela sorria.

Pede para descer,
ponho-a no chão.
Dá-me abraço...

Sai, vira as costas,
promete fazer
queixa.

Eu digo não ligar...
Chamo-a de gueixa.
Desabrocha...

Volta, abraça-me,
diz que me quer
e beija-me...

Morde-me o lábio,
afasta-se rápido
com desdém.

Avanço, ela afasta-se
empurra-me e diz:
_ De...de mau!

_Não me fale!
Perco as palavras,
Fico inerte.

Agora vai embora,
não olha para traz
e ignora-me.

Meu peito, as dúvidas...
Incertezas do querer
que não me quer.

No fundo, esperanças...
amanhã ainda vê-la,
estar pertinho.

Poder, talvez, tê-la
por um momento,
eterno instante.

( Cristovany Fróes )

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Colibri dourado

Porque partes colibri dourado?
Ainda não provaste a seiva da flor,
nem beijaste as pétalas de narciso.
Vais me deixar mergulhado em dor,
melancólico de até perder o ciso.

Porque partes colibri dourado?
Se ainda há flores a desabrochar.
Neste bosque é sempre primavera
é doce e, não há cicuta nem era.
Tudo é belo e, queres me deixar...

Porque partes colibri dourado?
Noutros vales existem predadores,
eles reduzem tuas ilusões a pó.
Não acharás beleza nem cores,
quando notares estarás triste e só.

Porque partes colibri dourado?
Tu és o único de sua especie,
se fores embora deixará tristeza.
Neste meu reino tu és a alteza,
No abdicar, meu tédio acontece.

Porque partes colibri dourado?
Fiques aqui e do bem te fartarás
e meu jardim viverá a teu favor.
Olhe para traz e me perceberás
declarando-te palavras de amor.

Porque partes colibri dourado?

( Cristóvany Fróes )

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Vicente artista

De dia ele tecia
e a noite encantava...
Julgava-se feliz.
Era um homem paulistano.
Como um falcão, encantava.
Gorjeava, Gorjeava
E exaltava o coração.
Nos momentos de linho;
Cosia, cosia,
Com os fios da paixão.

Vicente músico,
Vicente alfaiate,
Vicente artista.
Dos elogios de Madame Rosita,
às palmas da plateia.
Cantor nas noites serenas
e costureiro nos dias esparsos.
Um artista!
Artista!
Nos bailes, as badalações;
Gajos bem vestidos
E mulheres elegantes...
Decorava cortes,
decorava tons,
decorava estilos,
decorava tudo.
Que memória!!!
Entre cantar e coser,
O tempo.
E no tempo, a velhice...

O homem é tênue!
Tênue!
Agora, já não costura
E a sua voz é falha.
Nos passeios diários,
o surto de amnésia...
E na Rua Ezequiel Freire,
a cotidiana pergunta:
- Onde fica a Benvinda Aparecida?
É sofrida a volta para casa.
Hoje o ziguezague o ilude e,
a toada o ensurdece...
Será que Vicente se reencontrará?
Quando a arte voltar ao homem,
o homem novamente será...
Vicente artista!!!
( Cristóvany Fróes )