domingo, 18 de julho de 2010

Eternidade

Para inércia, fato.

Para águia, voo.
Para acontecer, ato.
Para repetição, enjoo.

                                Para compor, dom.
                                Para passado, saudade.
                                Para descontrair, som.
                                Para Marisa, eternidade.

Para ambição, teto.
Para raça, cor.
Para existir, feto.
Para ilusão, dor.

                                Para oposição, protesto.
                                Para prolongar, marte.
                                Para viver, pretexto.
                                Para profissão, arte.

Para palavra, dicionário.
Para ídolo, adoração.
Para padre, seminário.
Para povo. Nação.

                                Para vencer, sacrifício.
                                Para comunidade, clã.
                                Para desocupado, oficio.
                                Para mudo, palavrasã.


                Cristóvany Fróes

sábado, 17 de julho de 2010

Não fui, nem sou.

Como posso ser se não sei se fui;
Ou se o tempo é que foi por mim?
Eu não sou eu.
Eu sou uma incógnita.
Eu sou apenas o muro
[Que divide o ser do não ser.
E se existe um eu...
Eu sou o que o tempo quer que eu seja.
Estática! Talvez, seja a palavra certa
[Para nomear minha existência
E eu apenas estou em mim.
O eu de ontem não é o de hoje,
Nem será o mesmo de amanhã.
O "me" só existe nesta lucidez do momento,
No instante em que me acho
[Existente e válido.
E neste estado de transe
[Que me vejo diante do espelho,
Não sei o que me afeta
Ou se sou o próprio afetar;
Um afetar de um ser imaginário,
Que o tempo insiste em recriar.
Não!
Não sei o que me vale
[Se não valho sequer o tempo de um verso.
Um verso pode durar um minuto
Ou uma eternidade.
E um eu, dura o tempo que ceifa
Ou a percepção de um simples engano.

Cristóvany Fróes

Alegretriste

Um sonho aqui eu vivi.
Vi meus castelos derrubados,
Alados amores inalcançáveis
Amáveis, nunca para mim.
Sim, se foram as esperanças,
Confianças de que conseguiria.
Lutaria por um lugar ao sol,
Atol, lugar onde um dia saí,
Daí, eu não queria voltar.
Atar meus laços eu pensava,
Andava num mundo de ilusões,
Emoções sentidas em vão.
São rudes minhas fantasias,
Azias provocadas pela derrota.
Rota do sudeste para nordeste,
Leste, eu não iria de passagem,
Coragem ficou aí pelo caminho.
Mansinho e adestrado eu volto,
Solto, numa liberdade estranha,
Arranha ferindo o meu ego,
Nego o verdadeiro fracasso.
Escasso, eu fiquei de perseverança,
Avança agora a vontade de parar.
Varar o peito com o vil retorno,
Torno ao início do caminho.
Sozinho em busca do que não sei,
Cansei, vou descobri, eu juro.
O Juro será cobrado na vitória,
Glória é esperada em ilhéus.
Céus gris troco pelos azulados,
Gelados ficam os meus eus,
Ateus das coisas materiais,
Cordiais a amigos conquistados;
Animados, me fazem sorrir,
Carpir em serem verdadeiros,
Maneiros, totalmente de graça.
Desfaça meu peito da verdade,
Saudade vai levar de pessoas
Boas que me querem bem,
Também entendem a decisão.
São compreensivos nessa vida,
Tida como amada e desconecta.
Conecta agora a saudade que sinto.
Instinto, diz que os verei novamente,
Contente parto para o berço,
Exerço o mais triste papel
Fel é o gosto de amigos deixar.
Inchar os olhos de tanto pranto.
Portanto, deles hei de sempre lembrar.


Cristóvany Fróes

quinta-feira, 15 de julho de 2010

A verdade

E o que é a verdade?
O que se pensa agora, pode ser ultrapassado
Pelo pensamento de ontem ou de amanhã.
Como pensaria um ator?
A vida é um teatro de palcos múltiplos
Diante das encenações geradas pelo homem.
Em todas as circunstancias da vida real
A arte está em tudo que o homem produz.

Mas o que é a verdade?
A concretização das coisas já estabelecidas,
Ditas ou não, como a realidade nua e crua.
E como um cético poderia saber?
As coisas que estão diante de nossos olhos
Que por vezes se cansam e nos fazem mudar tudo.
O que acreditamos e queremos acreditar
São as faces de uma realidade física.

E a verdade onde fica?
A verdade é o que se pode provar com fatos...
Como pensaria o materialista?
É o próprio ato de algo existir como matéria.
A realidade vai e vem como as ondas
E se pode falar agora o oposto do que já foi dito.
Talvez um conceito de moral absorvida desde criança
Até que se quebre e crie um novo conceito de verdade.

O que pode ser a verdade?
A verdade não está na dor, nas lágrimas,
Nem em um sorriso por mais verdadeiro que pareça.
Como um alienado poderia responder?
A realidade é o que está fácil de aceitar e compreender
Por ser vista, bebida, comida e digerida como o alimento?
A esperança, os desejos, os sonhos e os pensamentos
Ficam sempre aquém do conceito de realidade,
É o que esconde a verdadeira face de verdade.

E o que é a verdade?
A verdade, talvez seja a criação da existência
O próprio estudo filosófico para tentar entende-la.
E o pensador como responderia?
A verdade está muito além da realidade
Ela vai até onde o nosso pensamento alcança.
A verdade pode está além do que se acredita ser real,
Ultrapassa os limites da fé e vai ao encontro de deus.
Ela é o que se pode sentir com o coração puro.

Cristóvany Fróes

terça-feira, 13 de julho de 2010

Morte da morte

Num dia triste e sofrido...
Um homem quis suicidar-se
E ao olhar para as alturas,
Que a selva de concreto produz,
Imaginou a possibilidade da morte.

E de repente no mais alto edifício,
Por lhe restar apenas o último olhar,
Vislumbra a animação dos átomos
Que lá embaixo são homens e mulheres.

Assaltado pela vertigem, vê-se, então
Obrigado a olhar para o horizonte,
Que se encerra nos limites da visão.
Percebe a infinidade da existência
E a beleza das flores em pólen e mel.

Surge um sorriso e a imagem do cosmo,
Que com seus astros torna mais forte
A vontade de provar do doce viver.

Cristóvany Fróes

O silêncio

Há um silêncio incômodo...
Um silêncio de passos trôpegos,
Um calar dos sentidos,
Um forçar da inércia.
Não me rendo a esse silêncio,
Não ao silêncio da escrita,
Mas da palavra propriamente dita.
O matar da voz,
Do grito,
Da toada lúcida.
Há uma vontade voraz
Que me induz a um querer,
Um dizer,
Um contestar,
Um expressar tudo,
Sem a necessidade lógica da linguagem,
Como se o silêncio chegasse à mão
E libertasse o gesto absoluto.
E essa mão fazer nascer novos signos,
Que entrelaçados formam léxicos
Na conformidade de um espaço uno.
Para que se revele tudo o que sinto.

Cristóvany Fróes

terça-feira, 6 de julho de 2010

Reciclagem

É dia de parar e pensar...
Pensar no que fizemos
E deixamos de fazer.
Em tudo que amávamos
E deixamos de amar.
Em tudo que vivemos
E deixamos de viver.

Nas coisas que sonhamos
E deixamos de sonhar.
Em tudo que seguimos
E deixamos de seguir.
Em tudo que perdoamos
E deixamos de perdoar.

Parar e pensar...
Pensar no que ganhamos
E deixamos de ganhar.
Em tudo que perdemos
E deixamos de perder.
No que acreditávamos
E deixamos de acreditar.

É um tempo de reciclagem
Boas lembranças virão,
Todas as ruins também.
Agora, talvez, ao pensar,
Nós podemos, então, perceber
O quanto nós somos importantes...
Importantes um para o outro.

Cristóvany Fróes

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Anfíbio

De manhã tenso
Meio dia regime
A tarde penso
Na noite sublime

A lua clareia
Uma estrela pisca
No mar a sereia
E eu a isca

Da hipnose o canto
A toada prossegue
Quando me espanto
A sedução persegue

Um ser envolvente
Levou-me ao oceano
Para vida contente
Durante um ano

Amores perdidos
Vendavais dispersos
Desejos proibidos
E outros universos

Verdades ilusórias
Emoções cantadas
Retorno de memórias
Em vidas passadas

Um sonho emerso
Com a deusa vivi
Depois de emerso
Deus netuno eu vi

E cedeu-me a mão
Da deusa do mar
E no firme chão
Veio a me amar

Vida sem mágoa
Por sobre a terra
E que sob água
A tristeza encerra

Cristóvany Fróes

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Redundanciando

Agora vamos começar
Exatamente do começo...
Quando um rapaz caiu uma queda
Logo depois de subir
Para cima de uma árvore
E tão rápido descer para
Baixo de uma só vez.
Machucado, entrou para dentro
De sua casa a gritar alto de muita dor,
Depois em seguida,
Saiu para fora e disse a seus amigos
Que não doeu nada.
Quando ia indo para a rua
Do pleonasmo brincar
De repetir palavras e sentidos,
De novo novamente ele se
machucou muito...
Ao escorregar na redundância
Pisou em cima de um prego,
O qual furou um enorme
Buraco no pé.
Saiu mancando do pé machucado.
Quando vinha vindo
De volta para casa com o pé
Sangrando sangue,
Encontrou sua mãe...
Ela logo quis ver com os próprios olhos
A ferida do seu filho.
Ela o levou para fazer curativo
No lugar do ferimento.
O curativo feito para curar, resolveu
O problema em poucos dias.
Mas tudo passa, tudo é passageiro,
Fugaz simplesmente.
Foi apenas um dia de azar,
Má sorte na verdade.
Outro dia, quando desocupado
E sem fazer nada,
locou um filme na locadora para se distrair,
O problema é que o filme
Era legendado para ler,
Ele odiou com muita raiva aquelas
Letras que passavam depressa,
Mas assistiu ao filme todo na sua televisão.
No filme, tinha um herói
Que era o artista principal
E o protagonista num bangue-bangue
violento de muito tiroteio.
Realmente tinha muito tiro de arma de fogo.
Contudo, é feliz, tem uma namorada
A qual ele namora.
Sua namorada é uma bela
Morena muito linda.
Eles se amam, ela o ama
E ele a ama também,
Já que ambos os dois
Têm muito em comum.
Gostam das mesmas coisas
Os dois, o casal.
É uma espécie de elo
De ligação que os une.
Quando saem para passear
E dobram a esquina, é unanimidade geral
Outros comentarem sobre a vida deles,
Mas eles não ligam e gritam bem alto,
Para jurarem amor eterno
E para sempre , sem se preocuparem
Com o excesso de fala oral.
Eles sabem que vicio de linguagem é fato real.
Infelizmente agora não há
Mais tempo para voltar atrás,
Nem tentar erradicar
Pela raiz esse costume.
Um plano é a idéia que tiveram...
Continuar a falar assim mesmo;
Provando como é mais melhor
Namorar aquem se ama,
Julgando ser mais maior
O amor que eles sentem,
Tornando mais menor a distancia.
E vão se amando um ao outro
Todos os dias diariamente
Sem a preocupação com a linguagem,
Assim sem rumo, à deriva,
Sem as regras que regem todo o sistema.

Cristóvany Fróes

Transeunte

Você chegou trazendo alegrias.
O seu sorriso era como o sol,
Iluminando e alegrando a imensidão.

Você chegou como uma passageira
De uma doce e infinita paz;
Trazendo-me muitas incertezas.

E sem demora você se foi...
Deixando um inferno em meu peito,
Causando-me dores intermináveis.
Você se foi e logo tudo acabou.


Cristóvany Fróes

Por ti

Eu caminhei,
Quando quis parar.
Eu concordei,
Quando quis contestar.
Eu sorri,
Quando quis chorar.
Eu me ceguei,
Quando quis enxergar.
Eu me calei,
Quando quis falar.
Eu me aproximei,
Quando quis me afastar.
Eu mudei,
Quando quis te ver mudar.
Eu fiquei,
Quando quis ir embora.
Eu esperei,
Sem pensar na hora.
Eu me dediquei
E a desilusão doeu.
Nunca foste tu
E até deixei de ser eu.

Cristóvany Fróes

Admirável

Em beleza é digna de veneração,
Lapidada por deus a cada instante.
Tem o senso maior de elevação,
Inteligência altiva sempre constante.

Belos cabelos jamais serão cãs,
Sorriso intenso nunca partir.
Exala o perfume suave das maçãs
Linda guerreia, nunca a vi carpir.

Ela lança na vida, gestos tão singelos,
Que um dia netuno ofertou-lhe o mar.
Andréa e divindade formam elos,
Ao ávido e carente sempre a amparar.

Um semblante que lembra néon.
Dos problemas, oásis é Andréa,
Que vê em tudo um lado bom.
De amigos, um dia, terá platéia.

[Cristóvany Fróes]

Frutas do tio

Que pirralho!
Olha lá,
De galho em galho,
Pulando acolá.

É de se admirar,
Na árvore alta;
Querendo brincar,
Que menino peralta!

No alto do pé de jambo,
Busca fruta madura.
Vai levar um tombo,
No pé de jaca dura.

O jenipapo está aquém,
Da doce carambola.
Seu quintal não tem,
E o dono ele enrola.

Inventa uma brincadeira,
Quando sobe nela,
Na arvore bananeira
Ou pé de ciriguelas.

Escorrega e não se zanga,
Mas sobe no pé de pinha.
Já desceu do pé de manga
E da goiaba amarelinha.

Gostoso é o sapoti;
Comer de outra maneira
O fruto verde do oiti
No quintal de tio carreira.

Uma carreira ele leva,
No colher do cacau.
Nada tem com a Eva,
Enganada pelo mau.

A agradar uma menina,
Vai que vai sorrindo,
Oferecê-la a tangerina
Ou azedo tamarindo.

E a garota não dá bola,
Ao cajá de temporão,
Mas ele leva a graviola
Ou o negro jamelão.

O maracujá deu sono,
E o fez dormir no ingá,
Com a chegada do dono,
Ele teve que gingar...

Corre pirralho!
Pula para cá,
De galho em galho,
Que o dono vem lá.


Cristóvany Fróes

Noite única (Sarau na rua)

Hoje logo tudo se encaixa,
Entre o verso e o encontro,
Surge o sorriso de Natacha,
Para deixar o cantor pronto.

Errando as letras devagar,
A disfarçar sem vaidade,
Os momentos de sonhar;
Na voz de Robson Andrade.

Essa gente está maluca,
Em cantar dessa maneira.
A curtir textos da Tuca
E gritos de Paulo Teixeira.

A amizade vem neste pique,
Com a força dessa folia.
No embalo Seixas do Rick,
A marcar presença da Júlia.

Emocionado, eu nada aqui direi,
Apenas vivo a expressão do som,
Que reproduz o brilho da shirley,
E a sutil leveza do Anderson.

A produzir o verso mais singelo
Que conquista a todos por perto,
A poesia técnica do Marcelo,
A irradiar esse espaço aberto.

Em meio à rua, nossas esperanças;
Mais felizes, ficamos todos nós,
Nos momento de muitas lembranças.
Inspirado, revela-se Cristóvany Fróes.


[Cristóvany Fróes]