domingo, 1 de maio de 2011

Esperar

Eu, isolado na minha triste alcova,
sentado diante da escrivaninha,
esperava um poema chegar...
Eu queria um poema,
se o fiz, não sei, mas queria fazê-lo.
Eu queria que ele viesse,
arrancasse meus pés do chão
e me fisesse voar.
Queria um poema doce...
A cada recitar, um beijo;
A cada leitura, um abraço;
A cada verso, um sorriso.
Eu queria um poema,
Que devolvesse ao surdo, a audição
Que desse ao cego , a visão
Que fizesse nascer no mudo, a voz.
Eu queria que a viúva chorasse de alegria,
ouvindo de seu falecido, o adeus,
em póstumas palavras de amor.
Queria que tivesse a beleza das flores,
que doam o doce néctar ao colibri.
Eu queria que ele tivesse a pureza
da criança,
que ama sem saber.
E o meu poema bailando no ar,
infectando todos sentires humanos.
Ah, quem me dera o verso puro,
o verso que eliminasse o ópio
e trouxesse de volta a lucidez louca de amar.
Eu queria o verso do amanhecer,
como o despertar dos passarinhos
em primeiros gorjeios.
E ao anoitecer,
o crepúsculo matutino finalmente
se encontrasse com a aurora
e a declarasse amor eterno.
Eu queria um poema forte,
que não se abalasse com as mãos trêmulas
do autor.
Um poema que vencesse a bomba
e ocupasse a cabeça do homem vil.
Queria um poema que mostrasse piedade,
tirasse do carrasco o chicote
e desse à vitima a voz do perdão.
Como eu queria um poema...
agora, de repente, rodeado de flores,
diante do corpo jaz e do verso frio da lápide,
lembro-me que fazer o poema,
eu nem ao menos tentei.

[Cristóvany Fróes]

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